A verdade é que não faz muito tempo que chorei. Chorei pensando que não haveria um futuro reservado a mim. "Ora, logo você? Sempre tão otimista e pensando isso?" - diriam. Sim. Também sou passível a ter meus momentos ruins e ter pensamentos tolos, sou tão humana quanto qualquer um. Pensei que o que consideram "sucesso" (ter um emprego e ser boa no que faz) não seria para mim. Perguntei até para meu noivo, mas ele não sabia responder, só me consolar e pedir que eu tivesse esperança. Dormi chorando durante a madrugada, desolada o bastante por não possuir as respostas. Dormi após uma longa conversa com o Deus de amor no qual acredito, pedindo-lhe que me desse paciência e juízo para esperar por esse "sucesso".
Parece que foi providência... No dia seguinte, um conhecido, o qual eu trabalhei junto, me perguntou se poderia me indicar para uma vaga, agradeci-lhe respondendo que sim. Contudo, minha esperança durante a quarentena foi drenada, sentia estar pisando em ovos que se quebrariam se eu parasse. Em menos de dez minutos recebi uma ligação de uma diretora de escola, após, uma mensagem da coordenadora pedagógica desta mesma escola. Tinha uma entrevista! Em dois dias teria que levar meu currículo com um uma aula preparada para a entrevista.
Foram dois dias incomuns: oscilava entre a excitação e a ansiedade. Minha primeira entrevista depois de séculos de quarentena! Já estava feliz o bastante por estar com uma entrevista, mas não queria de verdade ter minha esperança sugada pelo "não", então "não crie expectativas" - é a primeira regra. Mas já era! Já havia criado expectativas e planejamentos. Estudei com afinco para passar na prova-aula. O tema não era desconhecido: redação para o ensino médio. Agradeci muito por ter feito estágio com isso e ter livros que me ajudam nesse tipo de preparação. Aula preparada, plano de aula também - faltava ministrá-la.
Como a entrevista seria na escola e a escola fica a uma distância média de 30 km de minha casa e a condução de manhã cedo é lotada, estamos em época de pandemia e isolamento, minha família inteira se mobilizou: meu pai me ofereceu levar e queria aproveitar para passear com a minha mãe e minha sobrinha de chaveirinho. Fomos. Estava nervosa, tremia que nem vara verde, mas engoli o nervosismo na espera. Cheguei uma hora antes do marcado, mas nada muito além e nem aquém. Rezei durante o trajeto inteiro para me acalmar, mas ainda tremia de nervoso: primeira aula em meses, normal ficar nervosa. Chegando, conheci a diretora que me entregou uma prova e uma redação de estilo e tema livres, escrevi sobre as qualidades do bom professor. A prova tinha apenas cinco questões, quatro eram objetivas, eram muito básicas para quem se acostumou a dar questões assim para preparatório de concurso. Mas ainda faltava a aula...
Devia esperar a coordenadora para dar a aula e saber se eu estaria ou não dentro partindo do tom de sua resposta. Eram quase 10 horas quando ela chegou, nos apresentamos e conversamos. Mostrei-lhe meu currículo e contei onde morava e o que fazia. demorou um pouco antes do início da aula, mas quando comecei, desembestei a falar. Não conseguia perceber que o computador o qual apresentava possuía tecla para "youtube" logo embaixo da seta para o lado direito, apertava-o quase sempre sem querer por não ter o costume. No meio da aula, ela falou: você está dentro. E contou também algumas outras coisas que influirão no meu trabalho ali. Por conta disso, não dei a aula toda, mas mostrei o que ela mais queria saber sobre o tema. "Esta é a sua aula da semana que vem..." - disse a coordenadora a mim. Controlei-me para não gritar e nem pular e apenas respondi um "Ok".
Saindo da sala, ela começou a apresentar-me como a futura colega de trabalho de todos que via, conversou com a diretora e se despediu. A diretora conversou comigo sobre questões formais, pegou certos dados e me passou alguns. Saí do colégio com um sorriso enorme por baixo da máscara. Entrei no carro que meus pais me esperavam gritando "CONSEGUI MEU PRIMEIRO EMPREGO" e todos comemoravam. Contei a todos: noivo, irmãos, amigos... Finalmente saí da inércia. Queria chorar, dessa vez, de alegria! Não chorei, poderia manchar a maquiagem e minha blusa... Pedi uma comemoração e fomos almoçar fora. À tarde, dormi o sono dos justos, um sono que eu não tinha há muito tempo. O que eu quis dizer nessa história? É que mesmo quando se perde a esperança, ela não se perde de você.
Ana Luiza Pereira