A toupeirinha

Há muito tempo, numa floresta, havia uma escola que reunia os animais mais adversos que por ali morava:m pássaros, onças, borboletas, crocodilos, tatus, bichos preguiças – todos tinham suas tocas e ninhos ali perto.

Um dia, uma pequena toupeira entrou na escola com uma sede por conhecimento, mas possuía uma grande vergonha da sua aparência e sua dificuldade, já que toupeiras são praticamente cegas à luz do dia.

A professora, uma jovem onça, fazia de tudo para ajudar seus alunos no dia a dia: tirava dúvidas, explicava milhões de vezes, colocava a matéria no quadro, dava a devida atenção a quem a chamava… E a toupeirinha sempre lá atrás, quietinha, sem nunca incomodar ninguém. Nem sempre ela enxergava o que estava no quadro, mas sempre prestou muita atenção nas explicações da professora.

Aconteceu que, um dia, por conta de uma conversa interminável na hora da explicação entre o papagaio, o crocodilo e o sabiá, a professora se irritou, rugiu para todos, até para o bicho preguiça que dormia. Então, ela decidiu dar um teste surpresa com toda a matéria que tinha acabado de falar e valendo metade da nota.

A maioria da sala se desesperou: a conversa tinha atrapalhado até quem estava querendo prestar a atenção na aula. Danada mesmo foi a toupeirinha, que sempre se manteve quieta e atenta, conseguiu fazer o teste sem demora de tão fácil. A professora corrigiu surpresa, dando-lhe um dez e parabéns. A toupeira, então, saiu da sala desfilando o seu triunfo.

Após a aula, a turma foi perguntar à toupeirinha como ela tinha conseguido terminar o teste tão rápido e ela simplesmente respondeu: “Eu sei me calar e prestar a atenção nos sons, por isso, sei quais sons são mais importantes que outros e é por isso que eu fui bem”


Ana Luiza Pereira

Ignorância é força?

        “Nós não precisamos de nenhuma educação” , disse a banda Pink Floyd em uma de suas músicas mais celebradas. Mas, o que seria educação? Os membros da banda Pink Floyd enxergam educação como uma ferramento de manipulação do pensamento da massa, ferramenta esta criada pelo Estado e distribuída entre os mais pobres.
Acredita-se no poder da educação como ferramenta transformadora, mas o pobre não tem acesso à mesma educação do rico. Assim, o rico consegue (se manter) o status de “ser pensante”, capaz de governar e ter poder, enquanto o pobre continua sendo ignorante.
Acredita-se no poder da ciência e do pensamento científico, mas, assim como descrito em 1984 de George Orwell, a ciência é danificada de todos os lados pela falta de subsídios e também vira ferramenta de manipulação da massa.  Neste livro, a ciência é usada para fins da Polícia do Pensamento que mantém os membros do Partido sob constante vigilância, portanto, pesquisas científicas subjacentes não interessam ao Estado e não receberiam subsídio suficiente para continuar a existir. Pode-se dizer que o mesmo acontece com o Brasil ao cortar o financiamento das instituições públicas de pesquisa científica, como o CAPES, assim, o dinheiro que sobra irá para as pesquisas que mais ajudarão o governo atual a se manter no poder, enquanto outras deixarão de existir.
Ao mesmo tempo, isso cria um efeito adverso: o pensamento científico adquirido na escola torna-se desacreditado pelas classes mais baixas, ignorantes pela falta de acesso à educação adequada. Esse é o Efeito Dunning-Kruger que explica como a ignorância torna a pessoa mais confiante e, por conseguinte, mais manipulável por não possuir senso crítico e informação. Logo, tal pessoa sob esse efeito é capaz de gritar a plenos pulmões que não precisa de educação, pois ela já sabe de tudo.

Ana Luiza Pereira

"Why do they always send the poor?"

       “Why do they always send the poor?” (Por que sempre enviam os pobres?) - esse é o primeiro verso de uma das músicas mais conhecidas da banda System of a Down. Como pode-se imaginar, o verso se refere a uma luta armada, uma guerra, como a maioria das canções escritas pela banda, cujos membros viram com os próprios olhos o que a guerra fez à sua nação. 

Analisando especificamente esse verso e seu tema, fica fácil definir uma resposta: a guerra é uma ferramenta de manipulação da classe pobre através do medo e do ódio, afinal, grupos extremistas nasceram com o desejo de uma vingança de um inimigo que os oprime e os massacra. A manutenção do poder da classe alta não se dá somente pela morte do pobre, mas pela esperança em um salvador. Ora, o Messias de um povo vem através da política de seu país, sempre com promessas e discursos absurdos, o salvador é eleito na vã esperança de uma resolução.

Contudo, o messias se torna salvador dos grandes que o apoiam: protege empresários e oprime o pobre restringindo sua liberdade e conhecimento. Ignorância se torna liberdade; não para quem é ignorante, mas a quem pode usar essa ignorância para manipular o apoio da massa. A informação se torna uma ferramenta tanto do manipulador quanto do manipulado, pois apenas o senso crítico do manipulado poderia libertá-lo de tal opressão. Todavia, a informação é usada como forma de disseminação do medo e do ódio, aumentando o apoio a quem não importa se o pobre está com fome e morrendo no meio-fio da rua.

O pobre, então, é uma bola de futebol jogada de um lado a outro no campo sem nunca conseguir vislumbrar o gol. Os pés dos dominantes oprimem, "aumentando o desejo do oprimido se tornar também opressor" (Paulo Freire). A consciência da guerra não muda o quadro do pobre, pois o seu destino continua sendo o mesmo: morrer, seja pela fome, seja pela luta. Sendo assim, é eminente intuir que enquanto houver a opressão ao pobre, mesmo que o pobre se torne membro da classe dominante algum dia, o ciclo irá sempre se repetir, seja por vingança ou por manutenção de seu poder. Ou seja, a guerra continua sendo a paz de quem a declara.


Ana Luiza Pereira