A toupeirinha
Há muito tempo, numa floresta, havia uma escola que reunia os animais mais adversos que por ali morava:m pássaros, onças, borboletas, crocodilos, tatus, bichos preguiças – todos tinham suas tocas e ninhos ali perto.
Um dia, uma pequena toupeira entrou na escola com uma sede por conhecimento, mas possuía uma grande vergonha da sua aparência e sua dificuldade, já que toupeiras são praticamente cegas à luz do dia.
A professora, uma jovem onça, fazia de tudo para ajudar seus alunos no dia a dia: tirava dúvidas, explicava milhões de vezes, colocava a matéria no quadro, dava a devida atenção a quem a chamava… E a toupeirinha sempre lá atrás, quietinha, sem nunca incomodar ninguém. Nem sempre ela enxergava o que estava no quadro, mas sempre prestou muita atenção nas explicações da professora.
Aconteceu que, um dia, por conta de uma conversa interminável na hora da explicação entre o papagaio, o crocodilo e o sabiá, a professora se irritou, rugiu para todos, até para o bicho preguiça que dormia. Então, ela decidiu dar um teste surpresa com toda a matéria que tinha acabado de falar e valendo metade da nota.
A maioria da sala se desesperou: a conversa tinha atrapalhado até quem estava querendo prestar a atenção na aula. Danada mesmo foi a toupeirinha, que sempre se manteve quieta e atenta, conseguiu fazer o teste sem demora de tão fácil. A professora corrigiu surpresa, dando-lhe um dez e parabéns. A toupeira, então, saiu da sala desfilando o seu triunfo.
Após a aula, a turma foi perguntar à toupeirinha como ela tinha conseguido terminar o teste tão rápido e ela simplesmente respondeu: “Eu sei me calar e prestar a atenção nos sons, por isso, sei quais sons são mais importantes que outros e é por isso que eu fui bem”
Ana Luiza Pereira
Ignorância é força?
"Why do they always send the poor?"
“Why do they always send the poor?” (Por que sempre enviam os pobres?) - esse é o primeiro verso de uma das músicas mais conhecidas da banda System of a Down. Como pode-se imaginar, o verso se refere a uma luta armada, uma guerra, como a maioria das canções escritas pela banda, cujos membros viram com os próprios olhos o que a guerra fez à sua nação.
Analisando especificamente esse verso e seu tema, fica fácil definir uma resposta: a guerra é uma ferramenta de manipulação da classe pobre através do medo e do ódio, afinal, grupos extremistas nasceram com o desejo de uma vingança de um inimigo que os oprime e os massacra. A manutenção do poder da classe alta não se dá somente pela morte do pobre, mas pela esperança em um salvador. Ora, o Messias de um povo vem através da política de seu país, sempre com promessas e discursos absurdos, o salvador é eleito na vã esperança de uma resolução.
Contudo, o messias se torna salvador dos grandes que o apoiam: protege empresários e oprime o pobre restringindo sua liberdade e conhecimento. Ignorância se torna liberdade; não para quem é ignorante, mas a quem pode usar essa ignorância para manipular o apoio da massa. A informação se torna uma ferramenta tanto do manipulador quanto do manipulado, pois apenas o senso crítico do manipulado poderia libertá-lo de tal opressão. Todavia, a informação é usada como forma de disseminação do medo e do ódio, aumentando o apoio a quem não importa se o pobre está com fome e morrendo no meio-fio da rua.
O pobre, então, é uma bola de futebol jogada de um lado a outro no campo sem nunca conseguir vislumbrar o gol. Os pés dos dominantes oprimem, "aumentando o desejo do oprimido se tornar também opressor" (Paulo Freire). A consciência da guerra não muda o quadro do pobre, pois o seu destino continua sendo o mesmo: morrer, seja pela fome, seja pela luta. Sendo assim, é eminente intuir que enquanto houver a opressão ao pobre, mesmo que o pobre se torne membro da classe dominante algum dia, o ciclo irá sempre se repetir, seja por vingança ou por manutenção de seu poder. Ou seja, a guerra continua sendo a paz de quem a declara.
Ana Luiza Pereira