(II)

Deitei-me e cobri-me. Tinha a tola intensão de exercitar minha respiração e dormir. Pus uma coleção de músicas clássicas no piano e comecei.

Für Elise, Beethoven. E meus pensamentos já foram longe junto com o ar que encheu meus pulmões. Ao soltar esse ar lentamente, via imagens, boas lembranças de minha infância.

Rondo alla turca, Mozart. Pica-pau e Pernalonga invadem as lembranças junto com os dedos dela deslizando num tecladinho. Ainda tento controlar a respiração nesse exercício.

Nutcracker - Waltz of flowers, Tchaikovsky. Desabei. Debulhei-me em lágrimas de saudade da minha infância, ela tocando aquele tecladinho, eu vendo e admirando. Ela tentando me ensinar e eu apenas fazendo pose. Ela tocando e eu dançando... que lembranças boas! Senti muitas saudades dela. Sinto falta da sua presença todos os dias e chorei ali com tantas lembranças emanando daquelas músicas.

Antes que eu desmaiasse de cansaço por chorar, eu falei com ela, ao menos tentei. Em voz soluçante, disse o quanto a amo e sinto sua falta. Então, dormi. E finalmente, acordei no dia seguinte um pouco melhor.

Ana Luiza Pereira

(I)

Estou em frangalhos. Destruí-me até o último átomo do meu ser. Catá-los será exaustivo, mas não tenho condições para isso. Desconstrução e reconstrução são ações básicas do ser humano com a vida e consigo mesmo.

Quanto mais falam para não me importar, mais me importo; para relaxar, mais me estresso; para me aquietar, mais me mexo. Sou contraditória no meu íntimo e controladora comigo mesma.

Tenho planos, quanto menos consigo visualizá-los, mais desespero eu entro. Então, me destruo e fico em frangalhos. Resta de mim apenas frangalhos, pedacinhos mínimos que se desfazem a qualquer toque.

O que necessito para melhorar? Carinho me melhora, mas não é a cura. A cura reside em mim. Preciso achá-la mais uma vez para me reerguer e seguir em frente. Até lá: respire, apenas respire.

Ana Luiza Pereira

As lágrimas da chuva

Quem nunca chorou num dia de chuva?
A chuva cai lavando suas lágrimas e tristezas...
O frio te abraça, envolve...
Diz que está tudo bem, já que ninguém percebe que você não está.
Parece que o universo está entendendo sua dor
E chora com você.

Tenta te abraçar da maneira que sabe,
Consola de maneira gentil.
Vento são palavras,
A chuva lágrimas,
O frio seu abraço...

O universo é o amigo que você sempre tem nas horas mais sós.
E quando ele chora com você,
A solidão faz sentido.
Te torna amiga, companheira, 
Pois ela faz parte do seu universo agora.

Ana Luiza Pereira

O meu lugar

O meu lugar...
Onde eu devo estar
e viver minha vocação
com toda intenção
de feliz estar,
um bom trabalho prestar
e me completar...

Meu lugar eu não sei...
E, por isso, procurei.
E estou ainda a procurar...
Onde devo estar?
No tempo, parei.
Perdida fiquei
e chorei...

Meu lugar, meu lugar...
Angústia sinto,
e não minto
ao dizer que não sei onde está.
Vivo a procurar
e meu medo é nunca encontrar
esse maldito lugar
onde eu sei que devo estar.

Ana Luiza Pereira