No céu brilha estrelas;
sem nuvem, sem chão.
Chico Bento, entre redes e elas,
ouvia o sermão:
- Oxi, aqui num chove!
O gado morre,
as prantas morre...
- Oxi! Puquê recrama?
São José ouve a quem reza...
A chuva há de chuver
nessas minhas secas terras.
Mãe Nácia se balançava na rede,
olhos no céu com esperança
e na boca a sede
da terra fértil e mansa.
- Amanhã há de vir, mainha!
Vamu viajar pra terras pruveitosas,
com a intercessão da Rainha
e também da vossa...
- Qui terras são essas, Chico?
Perguntou-lhe seu amor.
- Terras além du horizonte, Cordulina,
terras sem temor.
O amanhã viria,
mas a esperança de Chico não morreria,
Viveria a esperar
a chuva chegar.
Muito vai sofrer,
com sorriso nos lábios e sem temer,
mas ele só pedia
a Deus a chuvinha.
Cometeu muitos crimes,
fome, descaso e objetos roubados...
mas a esperança não saía dos olhos de Bento.
- Ara, meu Deus! Esse calor desgramado...
E quando veio a chuva
rala, fina, intrusa
inesperada aos olhos de Cordulina, seu amor
mas atendendo as preces de Mãe Nácia
Chico voltou a sorrir.
Lábios rachados
ficaram molhados
- Finarmente Deus!
Obrigado pela chuva!
Obrigado pela bênção aos filhos seus...
Ana Luiza Pereira
Inspirado no livro "O Quinze" de Rachel de Queiroz de 1930.
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