O ano era 1946, o auge dos meus 15 anos. Vivia na janela, paquerando os rapazes da roça. Queria muito sair dali, papai era homem muito duro, xucro e tradicional; filha nenhuma poderia namorar sem sua supervisão, nem sequer sair para onde quer que fosse, nem para a missa.
Ele chegou à mineira (melhor jeito para descrever, já que morávamos na roça de Minas Gerais), seu nome era Milton, filho mais velho de 9 irmãos, tinha feições morenas, não bruscas, mas também não ligava para a beleza. Ele conversava comigo pela janela quase todos os dias até a hora de papai chegar e fechá-la, alegando que "todos acordariam cedo para trabalhar". As poucas vezes que não estive na janela ou ele não fora pelas andanças de sua família, trocávamos cartas.
E assim foi nosso namoro, até que em novembro de 1948 dissemos sim no altar. Tinha meus 17 anos e estava realizando meu sonho de sair das asas duras de papai. Sabia que Milton era pobre e nosso início não foi nenhum pouco fácil. Engravidei logo e, apesar de seu emprego, mal tínhamos para comer. Nos finais de semana, Milton andava com seus irmãos para as tocadas da vida, sempre com um banjo debaixo do braço e ficava eu com nosso filho, fosse no ventre ou no colo, costurando vestidos e grinaldas para complementar a renda da casa.
Existem outras mais histórias nesses entremeios, mas isto é coisa para outra hora...
Ana Luiza Pereira
Memória contada por Berenice Caldeira Pereira (minha avó).