Querido Chester,
Você não me conheceu e nem eu tive a oportunidade de te conhecer pessoalmente como meus amigos, todos fãs de Linkin Park e de você, mas eu te conheço. Segui sua vida e sabia de seus problemas. Eu os entendia, pois sou como você.
Há 1 ano atrás, você escolheu por acabar com a sua dor. Eu entendo, sinceramente. Sei como dói sorrir e fingir que está tudo bem, sei como é sufocante não saber nem quando ou onde chorar suas dores, sei da culpa que carrega, da vontade de não deixar ninguém preocupado e do grito sufocante preso. Eu senti e sinto o mesmo. Já escolhi me matar diversas vezes e, muitas, eu tentei ao som de seus gritos no fone de ouvido, mas os mesmos gritos me acordavam e me diziam que a dor iria passar...
As lágrimas que derramo agora não podem sintetizar o que senti naquele momento que soube de sua morte: negava as notícias até o Mike se pronunciar e, quando o fez, caí no chão do banheiro, nua após um banho, e chorei. Sufoquei-me em gritos desesperados, então arranhei todo meu corpo até sangrar. Foi injusto o que você fez e eu te digo o porquê: você era meu modelo.
Sofro depressão desde muito pequena, então sempre quis alguém para me espelhar e superar a dor que constantemente eu sinto. Sei que a morte de alguém próximo pode abalar, sei muito bem, foi com a morte que perdi meu primeiro modelo, a mulher que me salvou na primeira vez que tentei suicídio e levei muitos anos para aprender a conviver com essa dor e saudade. Porém, aos poucos, encontrei outro modelo de superação num dos meus primeiros amores de infância, ele teria passado por mais dores na vida do que eu poderia imaginar e, esse, era você. Por anos sua voz e seus gritos me puseram no caminho. Quando eu atentava com minha própria vida, sua voz estava lá para me despertar, não era isso que eu queria, eu queria viver, mas viver sem dor e sem sentimentos engasgados, chorados no chão de banheiros... Imagino que era isso que você também queria naquele momento: viver sem dor.
Bem, agora você vive sem a dor, mas e eu? Tenho que superar mais uma morte de um modelo. Como poderia suportar a dor se a voz que me acalmava era o que me dava mais dor? Por muito tempo me recusei ouvir qualquer música com sua voz, pois chorava. Cheguei a chorar no meio do shopping quando uma loja tocou In the end. Doeu, e ainda dói, mas já ouço novamente sua voz. Ouço os gritos de socorro abafados no som de suas canções e me entristece saber que a dor venceu e não você.
Sua esposa lançou a marca e a hashtag "#MakeChesterProud" na luta contra a depressão. Acompanho a luta diária de Talinda e seus filhos na superação de sua morte e na ajuda e suporte às outras pessoas que sofrem de depressão. Quis por muitas vezes participar enviando fotos e vídeos, mas todas as vezes que tentei chorei por ti. Foi-se mais uma história que teve de morrer para ser ouvida atentamente.
Chaz, eu sei que dói o que sentimos, mas eu quero e muito seguir o caminho inverso. Sei que você teve uma família e amigos maravilhosos que sabiam de sua condição, uma companheira que te apoiava independente se o dia foi bom ou ruim e sei que por muitas vezes você pediu ajuda e, as vezes, parecia que nada adiantou. Começo a ter as condições que você teve em vida: minha família e amigos estão cientes e são maravilhosos, um companheiro magnífico que me apoia e estou procurando ajuda. Sei que uma hora voltarei a ater meus altos e baixos novamente, mas não quero que minha dor vença para que ela seja ouvida.
Em honra à memória à você escrevo essa carta para dizer-lhe, onde quer que você esteja, que eu não desistirei e viverei para tocar a vida das pessoas à minha maneira, tal como você um dia tocou a minha. A minha e a sua história serão para sempre ouvidas.
Atenciosamente de uma fã que te considera amiga,
Ana Luiza Pereira